quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Namoro, Cole Porter e Sinatra no cinema

Quem não conhece Frank Sinatra que atire a primeira pedra, quem nunca viu um de seus filmes jogue a segunda e a terceira... Sim, Sinatra também foi ator e participou de mais de 40 filmes de diversos gêneros, desde comédia à policial. Como respeitado cantor, não é de se surpreender que tenha cantado em muitas dessas produções, as vezes o único ponto firme da trama. Este é o caso de Can Can, de Walter Lang.

Apesar de ser um ótimo cantor, as qualidades inerentes ao teatro não lhe foram dadas. O próprio dizia que o sucesso de suas músicas vinha do talento em poder interpretar canções e passar o que o compositor queria transmitir. No cinema é quase igual...

Produzido em 1960, a história se passa em 1896, em Montmartre, quando o can-can é proibido pelo 'bem da moral e da boa conduta' da época. No dia em que a polícia dá uma batida numa boate e descobre a dança ilegal, Simone (Shirley McLaine), dona e dançarina, vai presa e deixa o juiz Philippe Forrestier (Louis Jordan) apaixonado. Ao mesmo tempo, Forrestier tenta fazer seu trabalho, proibir o can-can, sem magoar a dançarina. O namorado de Simone, François (Frank Sinatra) terá que ser esperto para continuar com Simone e despitar o coração do juiz.



Sinatra charmoso....

Pois é, deu vontade de ver? Nem em mim.... O atrativo é a criatividade musical aliada à interpretações divertidas e, percebe-se, feitas pra entreter a platéia e não necessariamente fazer sentido. Cole Porter, compositor de standarts eternos no jazz e MPNA (música popular norte-americana, acabei de inventar) cedeu os direitos de uso de suas canções ao filme e assim tudo tomou seu lugar. Além de Sinatra cantando C'est Magnifique, há Louis Jordan em You Do Something To Me e Maurice Chevalier tentando engrenar Just One of Those Things. Lembrete: outro filme estrelado por Sinatra, High Society (com Bing Crosby, Louis Armstrong e Grace Kelly) teve que desembolsar 250 mil dólares pelos direitos de nove melodias de Porter.



... Sinatra bobão.

O melhor está por vir. Dentre todas as performances do longa-metragem Can-Can, a mais simples, terna e romântica é do"Skinny" Sinatra. Logo após uma briga com Simone, Frank (ops), François desce pra tomar um drink e encontra uma das coristas que sempre paquerou, mas nunca foi adiante. Mesmo em frente a oportunidade de ganhá-la, ele pensa, volta atrás e lhe explica tudo com It's Alright With Me. Sem ofendê-la, ele gentilmente a dispensa e se mostra um homem fiel a Simone. "Oh, what a man!", diriam suas milhares de fãs.

O grand finale da cena nasce do que aconteceu nos bastidores. A atriz que interpreta a corista se chama Juliet Prowse, namorada de Sinatra no começo dos anos 60. Não é de se surpreender o nepotismo e/ou favoritismo do showbiz de sempre, mas a mistura entre a vida real, namorados e "amigos coloridos" é saborosa. Prowse, que já era dançarina antes de conhecer o astro-namorado, só ganhou com a visibilidade do relacionamento: participações em filmes, peças de teatros, perfis em revistas, etc. Infelizmente o romance não foi longe. Após pedí-la em noivado em 1962, Sinatra queria muitooo (entenda por impôr) que ela largasse a carreira artística em nome do casamento, o que não foi aceito pela noiva e decidiu por terminar a relação.



Nota publicada na época do noivado
É, uma mulher lhe dar o fora durante o noivado não foi nada legal, mas ele superou rápido, aposto, com outras coristas Hollywood afora... Voltou a casar em 1965 com a também atriz Mia Farrow e logo depois com Barbara Marx, ex-esposa de um dos irmãos Marx, em 1976. Juliet Prowse tocou em frente: atuou com Elvis Presley (um dos inimigos comercias de Frank) em G. I. Blues e o seriado norte-americano Mona McCluskey, além dos filmes The Fiercest Heart (1961) e Who Killed Teddy Bear? (1965). Após tudo isto, sua estrela abaixou e ficou anos se apresentando como dançarina em cassinos de Las Vegas. Se casou com o ator de TV John McCook, do qual se separou e voltou um pouco antes de morrer de câncer em setembro de 1996.

Em seguida você assiste a cena de Can-Can que inspirou este post, dentro e fora das telas.
Apesar de toda polêmica off-stage, a canção é cantada com extrema beleza por Sinatra e lhe dá toda paixão que um caso de amor demora a apagar: a fidelidade dos sentimentos.

OBS: o áudio está um pouco atrasado no começo, mas nada que afete o quadro final.


2 comentários:

Unknown disse...

Espetacular a música It,s allright with me.Estava querendo ouvi~-la a anos. Muito obrigado Cairo,Miguel.

Cairo Fontana disse...

De nada, Miguel! Fico feliz de ter proporcionado tamanha recompensa atrás deste diamante que é o som dele! Se você quiser,pode encontrar essa música numa coletânea q o Sinatra fez todo voltado ao songbook do Cole Porter. o cd é esse:

http://www.submarino.com.br/produto/2/1949140/cd+frank+sinatra+sings+the+select+cole+porter+-+importado?menuId=201986

Grande abraço!

20 de fevereiro de 2010 01:38